O testador DY294 – Tudo que você precisa saber sobre ele e ninguém conta para você – Parte I
O testador DY294 é um daqueles aparelhinhos que eu costumo chamar de “X-Tudo” numa “analogia” com aqueles sandubas que vendem nas carrocinhas por aí.
O bichinho mede, não apenas, os parâmetros de diversos semicondutores bem como, os limites de tensão suportados por capacitores e varistores.
É ou não é, um “X-Tudo” da Eletrônica?
Ele faz a alegria do técnico reparador que pode descobrir, entre outras coisas, se o transistor que ele comprou é “bão” mesmo ou não.
Mas, CUIDADO não é um aparelho para principiantes, nem para “técnicos de Youtube” trocadores de peça.
Em outras palavras, é preciso saber o que se quer medir, ou seja, conhecer e entender o significado dos parâmetros dos semicondutores.
Neste artigo/vídeo, irei tratar das características e aplicações do DY294 que me levaram a julgar útil à sua aquisição e tentar explorar ao máximo todas as possibilidades de testes de componentes que ele oferece.
Comecemos pela alimentação.
Embora ele funcione com quatro pilhas tipo AA, como vemos na fig.1, para algumas medições iremos precisar de uma fonte externa capaz de fornecer 6VDC/3A, segundo o manual do fabricante que veio em chinês, mas como diria Chapolin Colorado – Calma, não criemos pânico – na Internet podemos encontrar uma versão em inglês.
Não destrua o DY294
E aqui é IMPORTANTE chamar atenção de que a fonte deverá ser regulada e não fornecer tensão superior a 6V sob o risco de queimarmos o microcontrolador que, segundo um artigo de Albert van Bemmelen, é o AME7106A.
Outra questão é que parece não haver proteção contra inversão de polaridade portanto, antes de colocar uma fonte externa verifique atentamente se a polaridade do plug está correta (negativo externo e positivo interno).
O Manual deveria mencionar isso e aqui vai mais um AVISO IMPORTANTE – NÃO USE AQUELAS FONTES MULTI TENSÃO e não estabilizadas!
Entretanto, pode-se verificar a tensão que está alimentando o DY294, seja com pilhas ou fonte externa, colocando a chave rotativa em uma das seguintes posições do lado NPN:
- 2A (Ic) 600mA (Ic)
- V(sat)100mA (Ic)
- 10mA (Ic).
Se colocarmos em alguma destas posições do lado PNP, aparecerá um sinal negativo na frente da leitura.
É importante enfatizar a observância da tensão de alimentação não “muito” inferior a 6V para que os resultados dos parâmetros medidos sejam corretos, ou seja, antes de tentar fazer qualquer medição verifique se a tensão de alimentação está correta, principalmente se estiver utilizando pilhas.
O manual cita que há uma indicação de bateria baixa, mas pelo que constatei, esta indicação só aparece quando a alimentação chega a cerca de 2V por isso, volto a enfatizar que, antes de iniciar qualquer medida, devemos verificar se a alimentação está próxima de 6V.
Entretanto, aqui há uma sutileza, pois dependendo da medição que estivermos a fazer a tensão de alimentação poderá cair pelo consumo de corrente, principalmente se estivermos a utilizar pilhas.
Eu preferi utilizar uma fonte externa e instalei nela um mini voltímetro que vai indicar a tensão alimentação em tempo real.
Eu costumo dizer que: – pior que não medir nada é medir errado!
Analisando as funções do painel
Algumas funções são autoexplicativas, entretanto outras nem tanto e vale a pena um comentário.
- TEST – Este botão, quando pressionado, gera alta tensão é utilizado quando queremos medir tensão de ruptura (breakdown) de transistores, diodos, isolamento de capacitores ou varistores.
- HV – O LED acende indicando alta tensão. O componente sob teste só deve ser removido quando o LED apagar.
- HOLD – Quando pressionado mantém a leitura no display após o botão TEST ter sido pressionado e liberado.
- Display LCD.
- Conector para fonte externa (6VDC/3A).
- A indicação C+ e C- refere-se a teste de isolamento de capacitores eletrolíticos, mas estes bornes podem ser usados também para testar outros tipos de capacitores e varistores com veremos a diante.
- Para diversos testes em BJTs, reguladores de tensão 78XX e 79XX (*).
- Chave rotativa, com várias funções, que iremos estudar detalhadamente mais adiante.
O que é OBRIGATÓRIO saber antes de começar a usar o DY294
O DY294 não “advinha” se o semicondutor, cujos parâmetros se pretende medir, é um BJT, FET, SCR nem, tão pouco, quais são os seus terminais portanto, você irá precisar saber isso antes de iniciar os testes.
Em alguns casos como, por exemplo, nos BJT isto é bem fácil de descobrir até para um principiante.
Entretanto, mesmo para os BJTs, saber se se trata de um NPN ou PNP, bem como os terminais base, emissor e coletor não é suficiente para utilizar este testador.
Iremos precisar do data sheet do componente para saber os valores dos parâmetros e não colocarmos a chave rotativa numa corrente de base maior que o transistor suporta ao tentar medir, por exemplo, o hFE.
A tabela abaixo, obtida do manual do fabricante, mostra um resumo das medições que podemos efetuar em transistores BJT e suas respectivas faixas de valores.
Antes de realizar qualquer medida com DY294 é recomendável verificar se o transistor não está com nenhuma junção em curto.
Na primeira linha da tabela temos dois valores de tensão de ruptura (breakdown), 1000V ou 200V, que podem ser lidos entre coletor-emissor ou nos terminais C+/C-.
Segundo o manual teremos cerca de 270V (eu medi 240V) ou 1540V mostrados no display.
Estas tensões poderão ser medidas com um voltímetro externo aplicado entre os bornes coletor-emissor ou C+/C-, quando o botão TEST for pressionado.
CUIDADO – Na posição 1000V teremos aproximadamente 1500V e a maioria dos DVMs não tem escala para este valor.
Na segunda linha tabela temos a medida da tensão de saturação (VCE(SAT)) para quatro valores de corrente de coletor: 2A, 800mA, 100mA e 10mA e as respectivas correntes de base 10 vezes menores.
A terceira linha mostra a medição do hFE também designado por ß (beta) que é o ganho de corrente em DC.
Observe que diferentemente dos multímetros digitais ele nos dá opção de medir o hFE para três correntes de base diferentes: 10mA, 1mA e 10μA.
Não utilize a opção de 10mA para transistores de baixa potência.
Na quarta linha temos a medição de um parâmetro importantíssimo que é o Iceo, corrente de fuga entre coletor e emissor com base aberta.
O Iceo, é aquela medição, bem precária, diga-se de passagem, que se fazia antigamente (ainda tem que faça) com a escala ôhmica do multímetro analógico.
Nesta posição ele mede correntes de fuga coletor-emissor com base aberta até 2000μA (2mA). Voltaremos a ela mais adiante.
Finalmente chegamos a quinta e última linha da tabela onde se pode medir reguladores de tensão das famílias 78XX e 79XX.
Na medição dos reguladores da família 79XX precisamos usar um “truque” que o manual na informa. Isso será demonstrado no vídeo.
Cuidados nas medições de hFE
Reforçando o que já foi dito acima, não tente medir o hFE de transistores de baixa potência usando a posição de alta corrente de base (10mA). Pode, ou melhor, vai danificar o transistor.
- Use as três posições começando com a de menor corrente (exceto para transistores de baixa potência). Se o ganho de corrente (hFE) não se altera de uma posição para outra, indica que algo errado com o transistor e é melhor não usá-lo.
- Se aumentamos a corrente de base e o hFE diminuir, indica que o transistor não pode ser usado em corrente mais alta.
- Uma variação progressiva no valor do hFE indica que o transistor está fora da especificação (deve ser falso se for novo).
Corrente de fuga coletor-emissor com base aberta (Iceo)
Temos uma posição da chave que permite medir a corrente reversa de fuga entre coletor-emissor com a base aberta (Iceo) até 2000μA (2mA).
Antes prosseguir explicando como realizar esta medição creio que vale um comentário.
A meu ver, esta escala de 2000μA (2mA) para medição de Iceo é muito alta pois, a maioria dos transistores atualmente apresenta corrente de fuga coletor-emissor inferior a 1mA chegando até a nano ampere.
Eu, particularmente, não consegui medir nada nesta escala em vários transistores que testei, portanto não fique frustrado se acontecer o mesmo com você, de qualquer maneira veja a seguir como realizar esta medição.
Medindo a corrente de fuga coletor-emissor com base aberta (Iceo)
Insira o transistor no respectivo soquete, mantendo a base desconectada e pressione o botão TEST.
Confira no data sheet se a corrente de fuga medida está compatível com o transistor
O teste de Iceo deverá ser realizado antes de medir a tensão reversa de ruptura (VBR).
Se o Iceo estiver alto (fora da especificação) teremos valores diferentes de VBR para a posição 200V e 1000V indicando problema com o transistor.
Outras correntes de fuga
Os BJTs apresentam ainda duas outras correntes de fuga, a saber:
- ICBO – Corrente de fuga coletor-base com emissor aberto.
- IEBO – Corrente de fuga emissor-base com coletor aberto.
O manual mostra uma tabela com estas correntes, entretanto, não apresenta como medi-las!
Transistores Darlington
O manual não faz nenhuma menção aos transistores Darlington que, como sabemos, alguns têm hFE superior a 10000.
Tentei medir o BC516 que, segundo o data sheet da ONSEMI, tem um hFE mínimo de 30.000 e o DY294 não mediu nada.
Outras medições nos BJTs
O manual apresenta uma tabela, que vai reproduzida na fig.3, mostrando outras possibilidades de medidas, a saber,
- Tensão de break down entre Coletor-Base com Emissor aberto.
- Tensão de break down entre Emissor-Base com Coletor aberto.
- Tensão de break down entre Coletor-Emissor com Base aberta.
- Tensão de break down entre Coletor-Emissor com Base-Emissor em curto.
Testando diodos
Podemos testar diversos tipos de diodos, inclusive Zener.
No caso dos diodos retificadores pode-se medir a tensão reversa de ruptura (break down) e a tensão de condução.
Utilizam-se os terminais coletor-emissor, polarizando o diodo inversamente e colocando a chave nas posições V(BR) 200V ou 1000V e pressionando o botão TEST.
Para a tensão condução utilizamos as posições VCE(SAT) de 10mA ou 100mA. Os resultados serão ligeiramente diferentes pois, a tensão de condução depende da corrente que passa no diodo.
O mesmo procedimento pode ser usado para descobrir a tensão de diodos Zener.
Coloca-se o Zener nos terminais Coletor-Emissor polarizado inversamente (na posição NPN, coletor no cátodo e emissor no anodo) e com a chave na posição 200V pressiona-se o botão de TEST e a tensão de Zener aparecerá no display.
O teste de DIAC será feito do mesmo jeito que nos diodos e a tensão mostrada no display deverá se a mesma independente da polaridade aplicada.
Por enquanto, vou ficando por aqui pois, o artigo está ficando muito grande e não deixe de assistir o vídeo no meu canal Youtube.com/@aprendaeletronicapaulobrites.
Na Parte II tratarei de medições em FETs, IGBTs, SCRs, Triacs e tensão de isolamento de capacitores, varistores e, como dizem nos noticiários da TV, TUDO ISSO E MUITO MAIS.
Aguarde!
No vídeo você irá notar que eu fiz uma modificação substituindo os terminais originais por plugs banana como se vê no destaque na foto abaixo.
Entretanto, esta modificação é bastante trabalhosa e só deve ser feita por quem tem bastante habilidade.
Uma possibilidade mais simples é montar duas plaquinhas para encaixar nos terminais originais como sugerida neste link de Circuits online.
O texto está em holandês mas, não se desespere o que interessa mesmo são as figuras!
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