Reparando o Gerador de áudio Minipa MG-809

Reparando o Gerador de áudio Minipa MG-809

O artigo de hoje é um guest post enviado pelo leitor Celso Silva Alvarez mostrando o reparo de um Gerador de Áudio Minipa MG-809 e que passo a reproduzir na integra.

Creio que será útil não só para os que militam no ramo da reparação de eletrônicos, mas também para estudantes.

A leitura casos reais ajuda muito, não que tudo seja igual, mas abre a nossa mente para ideias que, às vezes, não nos parecem viáveis a primeira vista.

Aprendi muito lendo “causos” em revistas técnica e dentre elas não posso deixar de destacar a “mamãe” Antenna da qual cheguei a ser colaborador nos áureos tempos.

E agora com a palavra o Celso com o seu reparo do Gerador de áudio Minipa MG-809.

Gerador de áudio Minipa MG-809

Gerador de áudio Minipa MG-809

Bem, nessa de comprar sem ver pra comprar barato algo que sirva, sábado passado, 07/05/2016 eu pechinchei um gerador de áudio Minipa, MG-809, e acabei levando-o por R$130,00. Lógico que o cara disse que não tinha como testar, e que ligou e estava acendendo a “luzinha”.

Muito bem, se você também é desses que quer comprar para barato, assim eu fiz e levei pra casa o brinquedo novo para o fim de semana.

Com os recursos de casa, lá vou eu para o primeiro olhar…

Inicialmente, com um multímetro Hikari HM-2090, ching-ling bem completinho, deu pra ver que oscilava, os ajustes de atenuação e amplitude funcionavam, tanto nas formas de onda quadrada e senoidal.

Bem, mas isso é pouco, bem pouco, quando não dá pra enxergar graficamente este sinal.

Meu osciloscópio Minipa ficou em outra cidade distante, e como passo tempos por lá, qualquer dia compro outro aqui no Rio pra não ficar carregando tanto peso de um lugar para outro.

Mas continuando, e chegando ao bom da coisa, ou ruim da coisa, olha o que temos.

Por precaução, coloco o atenuador em -10dB, ajuste de amplitude a meio curso. Isso na forma de onda senoidal me dava algo em torno de uns 550mV. Então, sem medo, usei a escala de frequência do multímetro Hikari, que me mostrou que o equipamento sempre dava aproximadamente 10 a mais do que estava no dial. Por exemplo: ele marcava 80Hz e o multímetro 90Hz. Ele marcava 4Khz e o multímetro marcava quase 5Khz, e assim por diante.

Antes o knob de ajuste de frequência estava frouxo, mas ele tem um ponto (.) marcando início e outro marcando o fim do curso.

Com uma micro chave allen firmei o knob primeiro, antes de realizar estes testes.

E realmente o aparelho continuava descalibrado mesmo depois que fiz este alinhamento mecânico.

Bem, santo Google pra frente, pra pegar manual de serviço e nada!

É possível até que o gerador de áudio Minipa MG-809 seja o mesmo Icel GA-1001.

Ambos do tempo em que os coreanos nos vendiam boas coisas, e os fabricantes aqui apenas aplicavam silk e mudavam um pouquinho o design.

O da Minipa saiu do catálogo, já o da Icel está à venda, mas acho que a caixa hoje é plástica, infelizmente agora deve ser made in China.

Mas nada de manual de serviço. No máximo consegui o manual do usuário do Icel, que, além de apontar os parâmetros pouca coisa diz. Afinal, nem teria tanto a dizer, pois este equipamento é relativamente simples.

Chave de Phillips, vamos começar a cirurgia… carcaça de ferro bem robusta, parece aquelas primeiras carcaças dos antigos aparelhos da LABO, coisa boa no primeiro olhar.

Internamente, o que me deixou triste foi o mecanismo delicado do dial, com duas engrenagens plásticas, frágeis e em extinção. Mas, pensando bem, tendo cuidado dura por toda a vida. E com impressora 3D dá pra fazer de tudo hoje não é mesmo? 

Então, ligando o aparelho por algum tempo, percebo que os dois integrados reguladores da fonte, 7824 e 7924 pareciam cada um ferro de passar roupas, de tão quente e sem dissipador.

Imagino ser isso falha do fabricante em querer não colocá-los num radiador no corpo do equipamento, pois a temperatura de trabalho, embora funcional, exigia dissipador.

Inclusive para um instrumento desses que fica horas a fio com um sinal fixo pra calibração.

Na foto se vê a modificação que fiz prontamente, retirei os dois reguladores da placa, coloquei um bom dissipador feito com um pedaço de esquadria de alumínio e ainda fixei no próprio chassis do aparelho, com os devidos isolamentos e pasta térmica, liguei-os à placa com um flat colorido. Aí sim… nem morno fica.

Engrenagens do dial e dissipador instalado

Engrenagens do dial e dissipador instalado

Fresquinho como merece depois de horas trabalhando.

Isso foi a parte preventiva, agora vem a parte realmente corretiva, que tive que descobrir e agora trago aqui e pode mostrar para o mundo todo, pois a ideia é sempre a de compartilhar.

Além do multímetro Hikari, que até ajudou bastante ao verificar as frequências fora de aferição, apelei para o meu velho frequencímetro que anda por aqui, um Sincler SFM-8000.

Isso porque o multímetro lê bem frequências baixas, mas já para trabalhar 1Khz e 1Mhz (fundo de escala do gerador), o frequencímetro é bem melhor, pois aí temos 8 dígitos.

Lembrando sempre de deixar o frequencímetro “aquecer” por uns 15 minutos até que atinja sua estabilidade, como lembram os fabricantes.

Mas, calma, tem um probleminha, tenho que ver as formas de onda, não sei onde vou mexer (forma, frequência, amplitude), então posso fazer besteira. Não tenho manual de serviço nem parâmetros de calibração, nem nada… nem meu scope está por perto.

Aí que se tem que usar a cabeça, que não serve só pra separar orelhas… fui lá na net e baixei o aplicativo ZelScope 1.05.

Pronto. Agora tenho um osciloscópio no PC usando a entrada de microfone.

Porém aqui temos que ter atenção a duas coisas. Qualquer tensão acima de 5Vpp manda pro espaço essa interface. Então me certifiquei da tensão de saída do gerador antes de começar e utilizei apenas 300mV (seguro e mais do que suficiente). Pra isso, atenuei pra -10dB, e deixando bem baixo o ajuste de amplitude.

A outra questão é que, por se utilizar uma interface de áudio do PC, a largura de banda do nosso tão sonhado “amplificador vertical” ficará limitado a 15Khz, devido às características estruturais do canal de áudio, o que neste caso não é problema, pois é possível visualizar todas as faixas, menos a X10K.

O osciloscópio virtual acompanhou toda a calibração, pra garantir a qualidade da forma de onda do começo ao fim e a leitura das frequências no notebook, que coincidiram com as leituras do frequencímetro.

Primeiramente, com o gerador desligado, anotei medidas ôhmicas dos trimpots antes de tentar qualquer ajuste, a fim de poder “resetá-los” se necessário fosse.

Uma observação minha, Paulo Brites

Aqui ressalto que não basta marcar com um potinho de caneta a posição do trimpot, isto é muito vago. Meça e resistência com um bom ohmímetro antes de começar a futucar (ou senta e chora depois e pergunta: onde foi que eu errei?).

O ajuste de frequência do gerador fica em três bobinas.

E como saber quem é quem?

Fácil né! Oscilar e tocar, onde alterar momentaneamente está quente a brincadeira, e com o meu “osciloscópio via PC” ligado, marcando frequência inclusive, foi fácil.

Muito importante isso: descobri as bobinas no toque dos terminais pra saber quem é quem. 

Então, meu amigo, temos dois osciladores no gerador: o primeiro é controlado por duas bobinas, que fazem o ajuste de início e fim de escala. 

Este oscilador é responsável pelas faixas x1, x10, x100 e x1K.

Então ajustou uma faixa ajustou todas estas quatro.

A terceira bobina é única para o oscilador da faixa x10K, que deve ser ajustado por último, equiparando seu fundo de escala com a de x1K.

Estou mandando fotos diversas do meu novo gerador e um pequeno manual de calibração onde detalho os ajustes e as formas de onda obtidas com o “osciloscópio via PC” e que ofereço para quem quiser.

Pode ser até um tanto rudimentar o que preparei, mas é suficiente para ajustar este instrumento com exatidão, atuando nos controles necessários, como consegui fazer. E é algo inédito, pois o Gerador de Áudio Minipa MG-809 existe por aí, pode ser que não dê tanto problema, mas nada tem a respeito que nos ajude a repará-lo, nenhum comentário que ajudasse eu consegui achar na net.

Enfim, se isso que te mando valer um artigo, a bebedeira é por minha conta… Mas te confesso uma coisa: é um prazer imenso dissecar, esmiuçar até conseguir tirar leite da pedra. 

Se quiser adaptar estes escritos pra compor um artigo, fique à vontade… Não cobro direitos autorais… rs

Grande abraço,

Celso Silva Alvarez

 

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Paulo Brites

Técnico em eletrônica formado em 1968 pela Escola Técnica de Ciências Eletrônicas, professor de matemática formado pela UFF/CEDERJ com especialização em física. Atualmente aposentado atuando como técnico free lance em restauração de aparelhos antigos, escrevendo e-books e artigos técnicos e dando aula particular de matemática e física.

Website: http://paulobrites.com.br

4 Comentários

  1. Frederico Pontes

    Legal. Não sei como é que você “vive” sem um osciloscópio!
    Sempre olhei para este gerador e imaginei que fosse um Ponte de Wien (R-C) mas, se tem bobinas,
    deve ser um Hartley ou um duplo T. Seria muto legal obter o esquema.

    • Paulo Brites

      Oi Frederico, eu não vivo sem osciloscópio, sem ele não dá para ser feliz!
      Repare que o artigo não é meu e sim de um leitor que me mandou e achei que valia a pena publicar.
      Não tenho certeza, mas acho que já vi este esquema rodando na rede Se eu achar coloco aqui.

    • Paulo Brites

      Muito obrigado pela sua participação

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