Como ser um “especialista em Eletrônica?

Dia destes recebi um e-mail que começava assim:

adquiri seus cursos de Eletrônica Básica e Avançada e seu livro sobre testes de componentes eletrônicos. Espero, com isso estar mais próximo de me tornar um “especialista” em eletrônica”.

Em primeiro lugar, se meu único objetivo neste mundo fosse ganhar dinheiro eu deveria ter ficado feliz com as aquisições do remetente, entretanto o dinheiro para mim é a consequência da realização de um trabalho e não o motivo para realizá-lo e, portanto, tenho receio de ter, inconscientemente, frustrado os sonhos desta pessoa.

É claro que dar o primeiro passo em uma caminhada sempre nos deixará mais próximo de chegar a algum lugar, resta saber em quanto tempo chegaremos e se no lugar que pretendíamos.

Eu comecei minha caminhada lá pelos meus distantes 14 anos de idade e ainda continuo e quero continuar caminhando com a certeza de que nunca chegarei ao fim da estrada porque quando a gente pensa que sabe todas as respostas, a vida faz novas perguntas.

Respondendo objetivamente, meu caro missivista por e-mail, no material que você adquiriu encontrará, de maneira bem otimista, um por cento do que precisará para construir seu sonho.

Aprendizado não é fast food que também não é alimentação. Enche barriga, mas não alimenta.

Aprender alguma coisa não é só “engolir” livros, vai precisar de tempo para o cérebro “digeri-los”.

Você está querendo começar a construir a casa pelo telhado sem ter as paredes para sustentá-lo.

Mente que lhe prometer que vai lhe “transformar” num técnico reparador “especialista” em 30 dias.

Especialista em que:

  • Reparo de televisores? De que tipo?
  • Geladeiras?
  • Máquinas de lavar roupa?
  • Celulares?
  • Rádio transmissores?
  • Impressoras?
  • Fornos de micro-ondas?
  • Amplificadores de áudio?
  • Panelas por indução?
  • Nobreaks?

Estes são apenas dez equipamentos que utilizam circuitos eletrônicos e seja lá qual for em que deseja se especializar vai necessitar de uma sólida base de conhecimento teórico.

Às vezes, eu dou uma passada em alguns grupos de “técnicos” no facebook e fico de cabelo em pé ao ler os pedidos de “ajuda” que aparecem por lá.

Cruz credo, quanta falta de noção das perguntas que fazem. Não é isso que eu quero oferecer para os meus alunos.

Para terminar esta primeira parte da minha resposta, resta dizer que não sou vendedor de ilusões e não prometo nada a ninguém.

Quero entregar conhecimento com qualidade.

Tento ensinar a pescar. Fisgar o peixe fica por conta de cada um, com a necessária paciência e perseverança de todo pescador “especialista” que tem a tranquilidade de aceitar que, às vezes, a maré não está para peixe.

Na segunda parte do e-mail ele perguntava:

– Como consigo conhecer o funcionamento de uma placa
eletrônica/equipamento?

Boa pergunta, aliás em todos os meus escritos sempre digo que o primeiro passo para se tentar reparar alguma coisa que, supostamente, não está funcionando é saber como a “coisa” deveria funcionar.

Parece óbvio, mas pelo que vejo nas perguntas nos grupos de facebook, para muita gente, que aparece por lá, não é o que acontece.

Por exemplo, um televisor “não liga” é diferente de “a tela não acende”.

Antes da invenção do controle remoto os dois problemas se confundiam. Hoje, são problemas diferentes.

Já parou para pensar nisso?

Que tal uma boa leitura no meu e-book – Sherlock Holmes e a Oficina de Reparos em Eletrônica. Talvez ajude.

Podemos dividir a questão de “conhecer o funcionamento de uma “placa”” em duas partes.

Se estamos a reparar um amplificador de áudio, por exemplo, precisamos ter uma noção global de como um equipamento deste tipo funciona e por conseguinte o que a “sua placa” faz.

Entretanto, nos equipamentos mais modernos temos “dois tipos” eletrônica ali, uma analógica e outra digital que precisam convier em harmonia.

Cabe ao técnico saber distinguir qual “tipo” de eletrônica está com problema e nem sempre e muito fácil descobrir isso sem que o fabricante nos forneça detalhes das “intenções” do projetista.

Antigamente, muito antigamente, quando os fabricantes eram comprometidos com os seus consumidores eles forneciam manuais de serviço que além do diagrama elétrico também traziam um breve resumo do funcionamento de cada parte do circuito.

Hoje, se conseguirmos um simples esquema já podemos nos considerar muito felizes.

A quase totalidade dos equipamentos atuais, seja um televisor, uma máquina de lavar roupas ou até mesmo um simples liquidificador, tem seu funcionamento baseado em circuitos de eletrônica digital incorporados nos, popularmente, chamados chips.

Os tais chips, nome genérico que pode representar um processador de sinal analógico/digital, um microcontrolador (que muita gente confunde com microprocessador) ou um controlador de fonte chaveada, entre tantos outras possibilidades, são verdadeiras caixas-pretas e para saber como eles funcionam e qual a função de cada um de seus pinos precisamos recorrer ao data sheet do fabricante.

Achar o data sheet, na maioria das vezes (nem sempre) é possível “dando um Google”.;

Data sheet obtido, na tela do computador, não significa que está tudo resolvido. Caberá ao técnico saber interpretar o significado das informações ali contidas e, para isso, será preciso “saber eletrônica” de verdade (e inglês também).

Não desamine, há uma luz no fim do túnel

A sorte de quem está querendo iniciar na carreira de reparador de equipamentos eletrônicos é que, pelo menos, uns 80% dos problemas dos equipamentos mais modernos são relativamente simples e podem ser resolvidos com um mínimo de conhecimento conceitual e uma boa dose de observação visual.

Mas, não vá com muita sede ao pote e não assuma a responsabilidade de reparar equipamentos de alto valor e que geralmente são mais complexos.

O ideal seria ter um “padrinho” que estivesse disposto a lhe ajudar o que é bem difícil.

Quando eu comecei, lá pelos anos 60, ainda era o tempo das válvulas e as coisas eram, relativamente, mais fáceis.

As novas tecnologias foram surgindo, no início lentamente, e eu as fui incorporando gradativamente.

Entretanto, quem está a começar agora vai pegar o bonde andando e numa velocidade muito alta.

Vai começar a assistir ao filme pelo final o que vai dificultar a entender o enredo. De vez em quando vai ter eu dar uma olhadinha em cenas anteriores e ir “pegando no tranco”.

Fazer os cursos é necessário, mas não é suficiente

Aqui no blog você vai encontrar alguns e-books grátis onde descrevo reparos que fiz, detalhando como resolvi o problema e não apenas dizendo que peça deve trocar.

A leitura de artigos sobre reparação, por exemplo, como na seção TVKX da Revista Antenna, também ajuda muito.

É colocando tijolinho sobre tijolinho sobre tijolinho, começando do chão, que a casa vai sendo construída para, finalmente, poder colocar o telhado.

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2 Comentários

  1. E Paulo ja vi esse comentario fora da oficina e lamento muito as pessoas que se acha sabichao e descobre por intuiçao ,como e um pedaço de fio solto e etc.
    Bom amigos estudem a teoria e depois a pratica vem com os anos de bancada e perder muito cabelo .

    • Caro Luiz, obrigado pelo seu comentário.
      Eu costumo dizer que não mias espaços para amadores.
      O que acontece como o reparo de eletrônicos acontece também profissões.
      A internet facilitou isso, para o bem e para o mal.
      O reparo de um equipamento é mais ou menos como aprender a dirigir. Depois a auto escola vem o pega pra capar no meio do trânsito.
      E.T – Nem todo mundo perde muito cabelo. Eu não pedi kkkk
      Abraços

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