A especificação de corrente das pilhas ou baterias recarregáveis

Este post foi escrito para atender uma dúvida de um leitor e provavelmente pode ser a dúvida de muitos. Quem sabe?

Quando você vai comprar uma bateria para o carro o vendedor, geralmente, pergunta qual a marca e o modelo do mesmo, bem como se tem ou não ar condicionado.

A partir destas informações ele consulta o catalogo do fabricante de baterias e lhe oferece a bateria adequada.

Pode ser prático, mas o correto seria ele perguntar “quantos ampères/hora”.

Primeiro ele precisaria saber o que significa “ampère-hora” e, provavelmente, não sabe. Nem ele, nem o dono do veículo, com raras exceções.

Em outras palavras, o que importa não é saber a marca e modelo do veículo (nem o nome do motorista…), mas, sim qual a especificação de corrente das pilhas ou baterias recarregáveis.
Coisa que deveria ser ensinada em eletricidade no 3º ano do ensino médio, por exemplo, mas o “currículo” manda ensinar, entre outras bizarrices, como calcular cargas de elétrons que ninguém irá usar na vida prática.

A especificação de corrente das pilhas ou baterias recarregáveis (ou não) nos fornece uma informação que pode ser entendida como uma espécie de “autonomia” da pilha, ou seja, por quanto tempo ela será capaz de fornecer a tensão especificada sob uma determinada demanda de corrente.

Uma comparação aproximada pode ser feita com uma aeronave, por exemplo, quando dizemos que ela tem autonomia para um determinado tempo de voo. Esse tempo está relacionado a quantidade de combustível do tanque do avião (de modo similar num carro) e o consumo dos motores.

Uma pilha ou bateria, diferentemente de uma fonte de tensão ligada à rede elétrica, não pode ficar fornecendo corrente à carga por tempo indeterminado.

Assim, se a especificação de uma bateria de 12V nos informa que ela é de 10Ah, significa dizer que se a carga consumir 10 ampères a bateria não irá fornecer mais os 12V especificados depois de uma hora.

E se consumirmos apenas 5A, por exemplo? Neste caso aumentamos a autonomia para duas horas.

Uma questão de “regra de três inversa” como se ensina, por aí, em matemática.

Por que inversa?

Parece óbvio que se consumimos uma corrente menor teremos um tempo maior de autonomia.

Vamos a continha que fazem por aí.

Se a bateria for de 2000mAh quanto tempo ela poderá fornecer a tensão especificada se estiver alimentando uma carga de apenas 250mA?

Dizem assim, 2000mA está para uma hora (60 minutos), assim como 250mA está para “x” horas.

2000mA   — 1 hora
250mA     — x hora

Creio que é fácil perceber que “x” dará 8 horas.

Deixo por sua conta descobrir por quanto tempo esta bateria forneceria 12V se consumíssemos 4A (4000mA).

Testando uma bateria recarregável

Você comprou uma bateria é que saber se ela é mesmo o que está escrito na etiqueta.

O primeiro passo é deixar a bateria sendo recarregada pelo menos por 12 horas ou o que disser no manual (se tiver manual).
Agora vamos a hora da verdade.

Usando a boa e velha irrevogável Lei de Ohm, faça uma continha básica para ter uma ideia do valor da resistência que deverá ser usada como carga.

Por exemplo, para nossa bateria de 12V-2000mAh a resistência usada como carga deverá ser 6 ohms.

Vale lembrar que devemos calcular a dissipação de potência do resistor que ser usado como carga.

Uma das maneiras de encontrar este valor é multiplicando a tensão aplicada nele pela corrente que irá circular por ele. Neste caso, 12V x 2A = 24W. Por precaução use um resistor de maior dissipação.

Agora monte a “gambiarra” mostrada no circuito da figura abaixo.
Não esqueça de marcar a hora em que você iniciou a experiência, pois isto é muito importante.

Se a bateria estiver boa, sua tensão só deverá começar a cair depois de uma hora de iniciada a experiência.

Se cair antes deste tempo, então você comprou uma “fake” bateria.

Você poderá também usar lâmpadas de filamento para servir como carga de modo similar aos resistores.

Para calcular a corrente de consumo da lâmpada basta dividir a potência em watts da lâmpada pela tensão para a qual ela foi fabricada.

Por exemplo, uma lâmpada de 24W / 12V corresponde a uma carga de 2A.

Não custa lembrar que a resistência do filamento apresentará um valor diferente do calculado porque estamos medindo a resistência a frio.

Se calcularmos a resistência de uma lâmpada de 24W /12V encontraremos 6 ohms, mas se medirmos a resistência encontraremos um valor menor que 1 ohm.

No meu e-book “O que todas as pessoas precisam saber Eletricidade” eu explico estes cálculos.

Não é necessário ter uma carga que consuma exatamente o valor em mAh ou Ah da bateria, basta usar a regra de três e descobrir a autonomia da bateria para um consumo diferente como foi mostrado acima.

Uma historinha da minha vida

Quando eu tralhava numa fundação do Estado do Rio de Janeiro, certa vez solicitei a compra de 50 baterias para recuperar nobreaks.

Quando as baterias chegaram me enviaram a nota fiscal para que eu atestasse que estava tudo de acordo com o pedido e assim, o pagamento pudesse ser realizado ao fornecedor.

Muita calma nesta hora. Não vou atestar a NF antes de verificar as baterias.

Das 50, apenas 18 estavam boas. Foi um Deus nos acuda. O fornecedor não queria trocar alegando um monte besteiras, mas no fim trocou, esperou eu testar todas elas para depois liberar o pagamento. Simples assim. Entenderam o que acontece por aí.

E para encerrar apresento um novo e-book Fontes Chaveadas para Iniciantes Volume 1.

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Paulo Brites

Técnico em eletrônica formado em 1968 pela Escola Técnica de Ciências Eletrônicas, professor de matemática formado pela UFF/CEDERJ com especialização em física. Atualmente aposentado atuando como técnico free lance em restauração de aparelhos antigos, escrevendo e-books e artigos técnicos e dando aula particular de matemática e física.

Website: http://paulobrites.com.br

14 Comentários

    • Paulo Brites

      Já foi respondido

    • Paulo Brites

      Eu sugiro a você a leitura do meu e-book
      No momento eu não tenho este curso.
      Estou muito ocupado com o Clube Aprenda Eletrônica.

  1. Antonio

    Quanto a “historinha de sua vida”, as baterias deviam estar com “sede”: hehehe
    https://www.youtube.com/watch?v=qCsaX3UzVQE
    Tenho recuperado uma grande parte destas baterias de luz de emergência somente colocando água destilada, com uma seringa, nas mesmas…

    • Paulo Brites

      Sinceramente eu não tenho um conhecimento técnico profundo sobre baterias do ponto de vista da química e não gosto de me arriscar, mas a ideia pode funcionar.
      Como dizia o Silvio Santos no seu programa “é por sua conta e risco”.
      Valeu a colaboração.

  2. Geraldo Magela

    É Professor, tem muita coisa aqui pra ler, enquanto o Sr. prepara as matérias!
    Abraços,

    • Paulo Brites

      Tem mesmo, vai aproveitando

  3. Geraldo Magela

    Interessante essa história da bateria! A gente vai lendo e aprendendo!
    À propósito, adquiri ontem o seu e-book sobre fontes chaveadas.
    Abraços Professor!

    • Paulo Brites

      Olá Geraldo, aprenda e divirta-se com o e-book
      Abraços

  4. Caro amigo Brites.parabéns pelo seu novo Post. Agora falando sobre baterias..
    De onde vem tantas idéias espetaculare
    s ? Me ensina esta fórmula . Abraços Arilsom

    • Paulo Brites

      Ha! Ha! Segredo de estado kkkk. São perguntas que me fazem e aí junto com meus aninhos de bancada, misturo tudo e dá isso.
      Abraços.

  5. Gerald Musy

    Hi Paulo,

    2000 mA/250 mA = 8 horas. O gato safado?

    Abraços,
    Geraldo

    • Paulo Brites

      Tks Geraldo

      Adoro leitores caçadores de gatos, mas só os de digitação. Dona Chica, fora. Nada de atirar o pau no gato.

      Já corrigi o “deslize”.

      Obrigado

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