Reparando uma Fonte de Slot Car (sem esquema)

Reparando uma Fonte de Slot Car (sem esquema)

Recebi um pedido para reparar uma fonte da marca Slot Car Brasil que, como o próprio nome diz, é usada pelo pessoal que curte Slot Car ou autorama para os não iniciados.

A fonte em questão, modelo FDA 16-25 é ajustável de 0 a 15V com capacidade de alimentar cargas até 25A e já havia passado pela mão de um “técnico” que informou ao proprietário que a dita cuja “não tinha conserto”.

Como estamos em época de vacas magérrimas com o (des) governo do estado do rio de janeiro (com letra minúscula mesmo) não cumprindo a lei, não pagando 13º e parcelando salários, não dá “pra escolher serviço” e resolvi aceitar o pedido.

Comecei abrindo o gabinete para ver o que o “técnico” havia feito e constatei que, felizmente, ele não tinha feito nada. Ainda bem!

A fonte não era de brincadeira. Uma chaveada incrementada com dissipador de calor pra tudo quanto é lado como se pode ver nas fotos a seguir. Um desafio e tanto a considerar que esquema não conseguiria, nem pedindo ao Papa para ajudar.

Resolvi encarar. Dava pena jogar uma coisa daquelas no lixo. Merecia umas horas de pesquisa e foi o que fiz.

fda 1625 1-minFAD 1625 2-minFDA 1625 3-min
Ligada a dita cuja via lâmpada série é claro, uma coisa que pude constatar imediatamente, é que não havia curto até porque o fusível estava intacto.Por outro lado, tensão nos bornes que é bom, nenhuma.

Medida a tensão DC nos capacitores de filtro encontrei 170V que é a tensão de pico da rede. Se não entendeu porque, sugiro que leia o meu post “Você sabe o que está medindo”.

Parti então para a obrigatória inspeção visual à cata de um eletrolítico “grávido”, um resistor “moreninho” ou algum vestígio de “incêndio”.

Durante esta inspeção descobri que a tal fonte Slot Car Brasil era constituída por uma placa da empresa MCE – Microtécnica Sistema de Energia – modelo MCE 5626E, fato que pouco ajudaria na tentativa de obter um esquema.

O jeito era fazer jus ao meu diploma de técnico e ao CREA que eu pago todo ano.

Continuando a olhada cuidadosa vi um KA3846 que é o clássico PWM usado em várias fontes chaveadas.

FDA 1625 KA3846-minA primeira providencia, após baixar o data sheet, foi ver se ele estava recebendo alimentação nos pinos 13 e 15 bem como se havia tensão de referência no pino 2.

Não precisa ser adivinho para concluir que não havia tensão nenhuma ou este post não existiria.

Resolvi retirar o CI e testá-lo fora da placa. Quem sabe eu começava 2016 com o pé direito.

Como testar este CI ou outros parecidos?

Já publiquei um post aqui mostrando isso. Se você não viu e se interessar pelo assunto clique no link.
Para minha tristeza, o CI passou no teste preliminar e eu ia ter que continuar mostrando que, às vezes, não basta ser técnico, tem que ser perseverante e acreditar que a sorte vai sorrir para gente em algum momento.

Um detalhe que meu chamou a atenção é que esta fonte tinha uma topologia parecida com a das fontes de PC as quais sempre têm uma sub fonte independente, geralmente de 5V, que está sempre “on” para fazer a “brincadeira” começar.

FDA 1625 REGULADORES DE TENSÃO-minObservei uma região com dois dissipadores pequenos um deles com regulador 7812 e outro com um MOSFET e mais um regulador 7805 sem dissipador.

Tudo isto numa região onde havia dois pequenos transformadores chopper provavelmente um deles para fazer a fonte de partida.

Comecei testando o 7805 e a melhor (ou única) maneira de se fazer isto é tirar o CI da placa e alimentá-lo com uma fonte externa para medir tensão de saída.

Ainda não foi desta vez. Fui para o 7812 que, infelizmente, também estava bom.

Mas, eu sou brasileiro e não desisto nunca. Hora de pegar o MOSFET para testar. Um tal de IRFBC30A.

Retirado da placa e colocado no “meu testador chinês” ele mostrou que aquilo certamente tinha sido um MOSFET um dia, mas agora funcionava como dois resistores em série.

O primeiro “criminoso” tinha sido descoberto, restava ver se ele não tinha cumplices.

Resistor 1M-minAo retirar o transistor notei que havia um resistor de 1Mohm escondido por trás e como estava com um aspecto estranho e resolvi medi-lo. Acertei na mosca, resistência infinita, ou como se diz no popular, estava aberto.

Como diz o ditado “quem vê cara, não vê coração” e ele se aplica bem a componentes eletrônicos – por fora bela viola, por dentro, pão bolorento.

Decidi então que seria bom verificar os demais resistores associados ao MOSFET assassino.

Geralmente a queima de um semicondutor deixa “efeitos colaterais”.

Resisto de 100 Ohms-min                                                         Uma boa lupa me mostrou mais dois resistores, um de 1 ohm que estava Resistor de 1 Ohm-minaberto e outro de 100 Ohm que estava com 146 Ohms.

Parecia que a área “devastada” tinha acabado e é era hora de trocar os componentes “do mal”, ligar e cruzar os dedos.

Os resistores não eram problema, mas é o MOSFET?

Achei alguns sendo vendidos pelo Mercado Livre, mas o frete custava mais que o componente, já que estamos no Brasil com um dos piores correios do mundo e o mais caro também. Além do que levaria uma eternidade para chegar e ainda corria o risco de ser um exemplar do tipo “la garantia soy yo”.

Que tal baixar o data sheet e estudar as características do tal IRFBC30A e ver se conseguiria um substituto a altura?

Tratava-se, como você mesmo pode comprovar examinando o data sheet, de um canal N Enhancement high speed (alta velocidade) com os principais parâmetros mostrados nas figuras abaixo.

Caract IRFBC-minIRFBC TemposAgora que eu sabia o que estava precisando comecei a revirar minha sucata em busca de um espécimen que pudesse realizar o trabalho.

Achei o 11N80C3 e comparando os parâmetros apostei que ele poderia dar conta do recado e resolvi arriscar já que os tempos de chaveamento fossem um pouquinho maiores, a tensão de dreno-supridouro, a corrente de dreno e a resistência dreno-supridouro suplantassem os valor do original.

11N80C3 Dados-min11N80C3-minBingo! Não é que funcionou.

Lá estava a tensão nos bornes de saída variando de 0 a 16 volts como desejado.

Mudei apenas o dissipador do MOSFET para um “modelito” maiorzinho uma vez que o original tinha uma aleta de dissipação metálica e o que eu utilizei era todo de plástico.

Caso encerrado. Acho que entrei 2016 com o pé direito.

Tomara!

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Paulo Brites

Técnico em eletrônica formado em 1968 pela Escola Técnica de Ciências Eletrônicas, professor de matemática formado pela UFF/CEDERJ com especialização em física. Atualmente aposentado atuando como técnico free lance em restauração de aparelhos antigos, escrevendo e-books e artigos técnicos e dando aula particular de matemática e física.

Website: http://paulobrites.com.br

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