O amplificador operacional e a eletrônica digital

Parte X – Amplificador operacional e conversão A/D

Para dar continuidade ao nosso estudo básico sobre a eletrônica digital que venho fazendo semanalmente ao longo desta série de posts preciso tratar um pouco do amplificador operacional que, embora esteja no âmbito da eletrônica linear, tem aplicações no processo de conversão de um sinal analógico para digital.

Não será um estudo aprofundado sobre amplificadores operacionais, pois isto exigiria, no mínimo, dezenas de posts. Tratarei aqui apenas do essencial para dar continuidade a nossa conversa sobre os ADCs.

Por que o nome amplificador operacional?

O próprio nome já nos dá uma dica de que o propósito de um amplificador operacional (daqui pra frente usaremos “amp op” apenas) deve ser fazer operações, ou mais especificamente, operações matemáticas tais como somas e subtrações, entre outras mais “complicadas” como diferenciação e integração.

Amplificador operacional valvulado

Amplificador operacional valvulado

Se você acha que os amp ops são frutos da modernidade, pois pasme em saber (se não sabe) que a ideia de construir um amp op surgiu lá pelo idos de 1945 e teve a sua primeira versão “prática” construída em 1953 como vemos na figura 1.

E à medida que os dispositivos eletrônicos foram evoluindo das válvulas para o transistores e destes para os circuitos integrados os amp ops foram se modernizando.

Obviamente que dentro do CI que chamamos de amp op, assim como em quaisquer outros CIs, temos transistores e resistores para compor o circuito, mas nós olharemos o amp op como um bloco único representado por um triângulo como vemos na figura 2.

Os terminais de um amp op

Acompanhando pela figura 2 vemos que são, basicamente, cinco o número de terminais de um amp op os quais são designados por:

 

Fig. 2 Simbologia do amp op

Fig. 2 Simbologia do amp op

1)   + Vcc e –Vcc que correspondem aos terminais de alimentação que, geralmente, deve ser feito por uma fonte simétrica;

2)   Terminal de entrada não inversora (+);

3)   Terminal de entrada inversora (-);

4)   Terminal de saída.

Como ilustração a figura 3 mostra a configuração de um amp op bastante “famoso” conhecido pelo código 741.

Fig. 3 - Amp op 741

Fig. 3 – Amp op 741

O amp op como circuito comparador

No momento interessa-nos apenas entender como funciona um amp op como circuito comparador, pois é esta configuração que é utilizada nos conversores analógicos digitais (ADC).

Como o próprio nome diz, nas configurações como comparador, mostradas nas figuras 4 e 5, o amp op irá comparar o sinal aplicado entre as suas duas entradas, inversora e não inversora, e fornecer na saída o resultado desta comparação.

Elege-se uma das entradas, a inversora ou a não inversora, como referência para fazer a comparação com a tensão aplicada à outra entrada.

Se as tensões aplicadas às duas entradas forem iguais, então a saída será nula.

Entretanto dependendo da entrada escolhida para receber a tensão de referência (Vref) teremos os seguintes casos:

Caso 1- Figura 4

Tensão de referência (Vref) aplicada à entrada não inversora:

a)   Se Vin > Vref então teremos saída em nível alto;

b)   Se Vin < Vref  então teremos saída em nível baixo.

Fig. 4 - Comparador - Caso 1

Fig. 4 – Comparador – Caso 1

Por exemplo, se a tensão de referência for 5V e aplicarmos 6V na entrada teremos um nível alto na saída que dependerá do valor utilizado para  a alimentação do amp op. Por outro lado se aplicarmos 4V teremos um nível baixo na saída.

Caso 2 – Figura 5

Tensão de referência aplicada à entrada não inversora:

a)   Se Vin > Vref então teremos saída em nível baixo;

b)   Se Vin < Vref  então teremos saída em nível alto.

Comparador 2

Fig. 5 – Comparador – Caso 2

Como fazer a conversão analógico-digital

 Existem, basicamente, três técnicas para fazer a conversão A/D.

São elas:

  • Codificação paralela ou flash
  • Contador gerador de rampa
  • Aproximações sucessivas

 Os parâmetros fundamentais na conversão são:

  •  Resolução, que está associada à quantidade de bits utilizado;
  • Rendimento ou velocidade de conversão que é dado pela taxa de amostragem (sample rate). Veja o post anterior.

Apresentarei aqui, de forma bem superficial, apenas o conversor flash para que você tenha uma ideia de como é feita a “mágica” para transformar um sinal analógico em digital.

Este conversor utiliza circuitos comparadores que irão comparar o sinal da entrada analógica com uma tensão de referência.

Como já vimos quando o valor da tensão analógica exceder o valor da tensão de referência, em um determinado comparador, um nível alto será gerado em sua saída. Acompanhe na figura 6.

O circuito da figura 6 mostra um conversor A/D de apenas 2 bits de resolução para fins meramente didáticos.

 

Fig. 6 - Conversor A/D Flash

Fig. 6 – Conversor A/D Flash

O número de comparadores utilizados dependerá da quantidade de bits de resolução. Se     quisermos trabalhar com 4 bits precisaremos de 15 comparadores, para 8 bits serão necessários 255 comparadores e assim por diante.

A finalidade da rede resistiva em série é formar um divisor de tensão para a entrada de referência na entrada de cada amp op.

À medida que o sinal analógico de entrada ultrapassa a tensão de referência de um determinado comparador a sua saída vai a nível alto que neste exemplo é igual a 8V que foi a tensão utilizada para alimentar os amp ops.

Estes níveis são levados a um circuito lógico chamado codificador de prioridade para finalmente produzir o sinal digital, que neste exemplo didático terá apenas dois dígitos.

Resumo da ópera!

Não irei, como já disse, me aprofundar neste assunto dado o seu elevado grau de complexidade. Isto fica, quem sabe, para um livro futuro.

O objetivo principal foi chamar a sua atenção de como os processamentos digitais exigem, na prática, que todos os elementos periféricos a um dado CI estejam com seus valores corretos e, nunca é demais lembrar, que não tenhamos problemas com soldas que podem parecer boas aos seus olhos, mas nem tanto para os exigentes circuitos digitais.

Por enquanto é só.  No próximo post teremos, finalmente, a construção de uma ponta lógica para equipar sua bancada com mais esta ferramenta importante na reparação de equipamentos digitais.

Até sempre.

 

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Paulo Brites

Técnico em eletrônica formado em 1968 pela Escola Técnica de Ciências Eletrônicas, professor de matemática formado pela UFF/CEDERJ com especialização em física. Atualmente aposentado atuando como técnico free lance em restauração de aparelhos antigos, escrevendo e-books e artigos técnicos e dando aula particular de matemática e física.

Website: http://paulobrites.com.br

12 Comentários

  1. Olá pessoal participante , gostei das informações aqui mostradas. A capacidade de cada um participante enriquece o conhecimento de todos . Muito importante esta fonte de apoio e resolução de dúvidas.

    • Paulo Brites

      Obrigado pela participação e comentário, Arnaldo.
      Não existe no Brasil nenhum espaço virtual que trate de temas de eletricidade e eletrônica como eu trato.
      Realmente a participação dos leitores é fundamental para o enriquecimento do trabalho.

  2. Evandro Silva

    Olá professor Paulo Brites, estou estudando sobre amplificadores operacionais, devido à dificuldade em encontrar algum material sobre como testar um Amp Op, resolvi fazer uma pesquisa para entender o funcionamento básico de um Amp Op e cheguei a seguinte conclusão de como testá-lo.
    Supondo que tenho 5 Volts na entrada não inversora (V+), 3 Volts na entrada inversora (V-) e que o ganho de tensão (Av) é 10, sendo usada uma fonte linear de +15V/-15V (o +Vcc está alimentado com +15V e o -Vcc com -15V.
    Para descobrir a tensão de saída (Vo) devo fazer o seguinte cálculo: Vo=Vi*Av.
    A tensão de entrada (Vi) será calculada da seguinte forma: Vi=(V+)-(V-), Vi=5V-3V, Vi=2V.
    Vo=2V*10, Vo=20V, observando que o Amp Op está saturado em +15V, pois o +Vcc está alimentado com +15V e sendo assim, a tensão máxima de saída (Vo) será +15V.
    Devo colocar o multímetro em uma escala de tensão DCV adequada, com a ponta de prova preta aterrada, devo colocar a ponta vermelha no pino de saída e a tensão deverá ser 15V.
    Gostaria de saber se minha lógica de raciocínio está correta, se tem algum detalhe que passou despercebido e também gostaria de saber se é possível testar um Amp Op Ôhmicamente.
    Obrigado.

    • Paulo Brites

      Evandro vou ter que analisar isto com calma e acho que já escrevi algo a respeito. Tenho que procurar.
      Mas pode testae tirar conclusões. Quanto a medir qualquer ci ohmicamente, em geral, não certo o máximo que pode conseguir é comparando pino a pino com o outro igual e que está sabidamente bom.

  3. João Guilherme

    Parabéns pela iniciativa. Estou cursando engenharia da computação e achei seu artigo. Muito legal

    • Paulo Brites

      Obrigado João pela participação

  4. Isaque

    Olá, professor Paulo. Foi de grande utilidade o seu artigo, muito bom. Só para avisar, as figuras 4 e 5 estão invertidas podendo gerar confusão.
    Um abraço.

    • paulobrites

      Olá Isaque
      Muito obrigado pela sua participação. Já corrigi o erro na inversão das figuras.

      Abraços
      Paulo Brites

  5. Saulo Moura

    É muito bom ter conhecimento recentemente estive fazendo uma das minhas muitas exeperiencias no campo de amplificação de sinais em um monitor de ondas da Tektronixs e sem saber como funcionam os operacioanis, vc pode até montar alguma coisa mas se não conhecer o âmago do assunto não vale apena, brincar com as fórmulas fazer o projeto e ver funcionando é demais. Assunto como esse é uma maravilha, parabéns. Paulo em tempo, alguns meses atras esta eu revirando um sebo no centro do Rio e encontrei um anuário da Embratel que apareci VV Excelência utilizando um terminal pelas imágens pareciam dados telemétricos. Pois tambem entendo de comunicações. Parabéns Mestre !!! .:.

    • paulobrites

      Olá Saulo
      Lembro-me de você lá pela Mal Floriano.
      Pois é, trabelhei 15 anos da Embratel no Centro de telemetria e controle de satélites.
      Estou de volto com os recursos da Internet.
      Abraços

  6. Isaac Braz da Luz

    Sr; Paulo Brites agradeço pela sua volta, com seus ensinamentos,o qual tenho aprendido muito sou o tecnico que sou, graças a estes ensinamentos,ministrado pelo senhor.E muito mais, os quais,não posso enumera-los aqui. Muito grato.

    • paulobrites

      Que bom Issac.
      Fico feliz por poder contribuir com o seu progresso
      Abraços

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