Como consertar um televisor LCD

Como consertar um televisor LCD

A proposta desse título – como consertar um televisor LCD, segue a linha sensacionalista das manchetes dos jornais e revistas. Chamar a atenção para falar de um assunto que, embora pertinente, não é exatamente o que o título diz.

Se você já chegou até aqui, é sinal que estou indo bem e estou lhe deixando curioso pra saber o que vem pela frente.

Na verdade não irei lhe dar a receita mágica, a fórmula 100% segura, o pulo do gato e nem uma super dica, no melhor estilo Black Friday, para você, seja um leigo ou um “técnico”, de como consertar um televisor LCD sem saber nada de eletrônica, pois nem irei falar deles.

Quero falar de “consertos” de um modo geral. Vou falar de consertos com S e não com C, pois não sou músico e de “concertos” a única coisa que eu sei é apreciá-los.

Há tempos vinha querendo escrever um artigo sobre isto, ou melhor, reescrever porque que já tratei do assunto algumas vezes nas páginas do Jornal Ícone, mas, diz o ditado – recordar é viver.

Volta e meia, passeando pelos fóruns vejo “pedidos de ajuda” para consertar televisores, aparelhos de som e outros equipamentos eletrônicos de pessoas (alguns até se dizem técnicos) que pensam que arte de consertar alguma coisa que não funcionam tem alguma ligação com adivinhação e que um Técnico é algum tipo de bruxo moderno com poderes sobrenaturais.

Neste caso o que recomendo é ligar para o telefone daqueles anúncios que aparecem colados nos postes ou pichados nos muros de qualquer cidade e que dizem: – Jogam-se búzios, trago seu amor de volta em três dias (vivo ou morto!).

Os quatro passos de qualquer conserto (com S)

A ideia desde artigo é lhe mostrar uma estratégia que deve ser sempre seguida quando se pretende consertar alguma coisa que supostamente não está funcionando.

Digo, supostamente não está funcionando, por que, às vezes, o defeito, pode estar entre a cadeira e a mesa, o que é muito comum no caso dos computadores, em particular.

Passo nº 1 – Como a geringonça funciona

É imprescindível que antes da seção “desmonta tudo e perde metade dos parafusos” você saiba ou descubra como a geringonça funciona (ou deveria funcionar).

Certamente isto poderá evitar a procura, sem sucesso, de chifres em cabeça de burro (não me entenda mal).

Passo nº 2 – O(s) sintomas

Hora de entender o que está acontecendo, ou melhor, não está acontecendo ou acontece de forma diferente do que deveria.

Em outras palavras, aonde é que dói?

Passo nº 3 – O diagnóstico

Esta talvez seja a parte mais difícil de toda tentativa de se consertar alguma coisa.

A menos que o sujeito chegue ao hospital com uma perda quebrada e aí está na cara, ou melhor, na perna, onde é que dói, às vezes, uma dor pode ter varias causas, provocada por motivos diferentes.

Se o aparelho foi ligado erradamente numa rede de 220V e ele não tinha comutação automática de tensão, isto é uma “perna quebrada”. É só passar no Raio X, neste caso medir o transformador, por exemplo, e “engessar”, se não for fratura exposta!

E se o “paciente” (quem vai ao médico tem que ter paciência) sente dor em tudo quanto é lugar? Tem hora que liga, tem hora que não liga, desliga “sozinho”, às vezes, dá treme-treme (será que é Parkinson?) e por aí vai.

Este é um diagnóstico que pode exigir uma boa dose de conhecimento teórico sobre o “paciente” senão você vai receitar o remédio errado e pode piorar a situação. Muita cautela e cancha de galinha nessa hora. Não existe atestado de óbito para aparelhos eletrônicos que morrem na sua bancada.

Passo nº 4 – Fazendo e analisando o resultado dos “exames”

Supondo que você conseguiu um diagnóstico, com base num bom conhecimento teórico do funcionamento do equipamento, talvez seja necessário “fazer” alguns exames, medições.

Porém, o mais importante não é fazer as medições e sim saber interpretá-las senão, dor nas costas pode virar pneumonia e, enquanto isso, o cara morre de infarto do miocárdio.

Passo nº 5 – Aplicando o remédio correto ou trocando a(s) peça(s)

Depois do diagnóstico e da analise e interpretação correta das medidas esta é a parte crucial do conserto.

Em primeiro lugar, muito cuidado com as peças (e os remédios) “genéricos”. O que mais tem no mercado é peça falsificada made in China.

Por outro lado se você trocar a peça errada, porque seu diagnóstico ou analise das medições foi incorreto, na melhor das hipóteses pode apenas continuar não funcionando.

O pior é se você coloca uma “doença” nova ou o seu “remédio” produziu “efeitos colaterais”.

Primeiro porque quem vai arcar com os custos do “novo remédio” é você e não o paciente (no duplo sentido) dono do aparelho e em segundo lugar porque se morrer de vez na sua bancada lembre-se que não dá simplesmente pra passar o atestado de óbito e declarar – causa mortis – falência múltipla dos órgãos!

Os defeitos (ou vícios) catalogados

Uma boa parte das falhas dos aparelhos eletrônicos (assim como nas doenças) já foram catalogadas e ocorrem basicamente pelas seguintes razões:

  • Erro de projeto (intencional ou não)
  • Componentes de qualidade duvidosa (fora das especificações) mesmo originais
  • Obsolescência programada (é preciso vender novos produtos pra garantir o lucro dos investidores)
  • Problemas de linha de produção, solda fria é o mais comum, temos também a cola “assassina” e coisas do gênero.

Quando a falha se enquadra numa destas categorias a prática pode ajudar a resolver o problema. O técnico ou seus colegas já viram aquilo se repetir e aí acertam direto na mosca.

Neste caso a troca de informações via fóruns pode ser útil, mas não basta dizer trocar isso que funciona. É importante que o técnico saiba os porquês, caso contrário não pode ser chamado de técnico e sim trocador de peças.

A questão complica quando a “doença” é nova e ainda não foi catalogada.

Neste caso, nada mais prático que uma boa teoria.

O cliente-técnico e o “técnico” forunfeiro

A facilidade de se encontrar “soluções” para tudo via Internet criou duas novas categorias de “técnicos”.

Uma delas e a do usuário que pensa que consertar um televisor ou um equipamento de som é a mesma coisa que trocar carrapeta de torneira.

Vai ao camelô compra um kit de ferramentas composto de um ferro de solda da marca “o exterminador do futuro”, umas chaves de fenda feitas de arame um “bom” multímetro digital Ching Ling Plus e se mete a consertar o seu aparelho seguindo as receitas da “mãe joana de aruanda” que ele viu na Internet.

Quando as “receitas” falham, ele se mete novamente nos fóruns e fica perguntando que peça é aquela compridinha e cheia de listinhas coloridas.

Pior que o cliente-técnico é o técnico forunfeiro que comprou o mesmo kit de ferramentas e pendurou uma placa na janela – ConCerto de televisão – todas as marcas – Técnico especializado (em destruição).

Os técnicos cobram muito caro

A desculpa do cliente-técnico é que os técnicos cobram muito caro só pra tocar uma pecinha.

É bem verdade que alguns extrapolam, mas o cliente-técnico não leva em conta o investimento, cada vez maior, que o verdadeiro técnico precisa fazer para se manter na profissão.

Por outro lado, todo valor de serviço precisa embutir uma espécie de seguro porque o aparelho pode retornar num prazo inferior a 90 dias com o mesmo sintoma, mas por razões diferentes e o técnico não pode mandar você ir a farmácia comprar outro remédio. Ele terá que arcar com a despesa/prejuízo porque a mal feita lei do consumidor dá os mesmos 90 dias de garantia para um conserto de um aparelho velho e para um aparelho novo.

Dicas para quem quer se tornar técnico reparador (ou já é um)

A primeira delas é ter sempre em mente os cinco passos dados acima.

Não dá para consertar um aparelho eletrônico sem saber eletrônica, ou seja, como os componentes e os circuitos funcionam.

A proliferação avassaladora com que os aparelhos entram no mercado hoje em dia exige atualização constante de quem quer atuar na espinhosa profissão de técnico reparador.

Não dá pra estudar só na hora que o aparelho estiver na bancada. É preciso estar sempre um passo a frente.

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Paulo Brites

Técnico em eletrônica formado em 1968 pela Escola Técnica de Ciências Eletrônicas, professor de matemática formado pela UFF/CEDERJ com especialização em física. Atualmente aposentado atuando como técnico free lance em restauração de aparelhos antigos, escrevendo e-books e artigos técnicos e dando aula particular de matemática e física.

Website: http://paulobrites.com.br

8 Comentários

  1. Alfredo henrique

    Professor o senhor arrebenta,no bom sentido claro,em suas explicacoes,mais um artigo que aprendi muito com ele.
    grande abraço

  2. ARMANDO ASF

    Boa tarde! Mintei o projeto pra verificar a presença de sinal LVDS. Com a ponteira vermelha e na escala de 2V DC, enconteo -013 aproximadamente. Munha dúvida é em relação às ponteiras, como monto o projeto na vermelha e na preta?

    • Paulo Brites

      Olá Armando
      A ponteira preta é a comum para entrada e saída (terra)
      A vermelha vai no capacitor na entrada e no + do multímetro na saída Sua leitura parece indicar 130mV o que parece razoável se todas estiverem dando valores próximos a este Isso vaio depender de varias coisas, quando eu digo de 150mV a 200MV não é um valor preciso. De um televisor para outro ou dependendo do multímetro pode variar um pouquinho.

      • ARMANDO ASF

        Entendido, obrigado, sr. Paulo Brites!

  3. Warley Cesar

    O artigo diz tudo para o profissional e não entrega o ouro para o bandido digo fuçador metido a besta .

    • Paulo Brites

      Olá Warley
      Muito obrigado pela participação
      Abraços

    • Paulo Brites

      Olá Warley
      Muito obrigado pela participação
      Abraços

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